Apontamentos para uma História das Pessoas com Deficiência
Na Alemanha, a figura de Adolfo Hitler, na sua obsessão pelo aperfeiçoamento da raça, trouxe à história anos de atrocidades. Os cidadãos com deficiência estiveram entre os primeiros sacrificados.
Pela lei da “higiene social de 1933, calcula-se que umas 100.000 pessoas sinalizadas com deficiência mental e outras perturbações associadas morreram durante a época do terror nazi”.
A “esterilização compulsiva de pessoas com problemas hereditários, deficientes mentais e a castração de delinquentes sexuais, ou de pessoas que a cultura nazi assim classificasse, como era o caso dos homossexuais”, eram práticas correntes”, (Amor Pan, 51).
Em 1935, as Leis de Nuremberg proibiram “o casamento ou contacto sexual de alemães com judeus, com pessoas com problemas mentais, com doenças contagiosas ou hereditárias”.
Em Agosto de 1941, algumas semanas após a Alemanha e a União Soviética entrarem em guerra, o bispo de Münster, na Renânia, denunciou publicamente o assassinato de cidadãos com deficiências físicas e mentais pelos nazis.
O Bispo exclamava: “É uma doutrina tenebrosa aquela que busca justificar a morte de inocentes, que autoriza o extermínio daqueles que não são capazes de trabalhar, dos enfermos, daqueles que soçobraram na senilidade… Será que temos o direito de viver só enquanto pudermos ser produtivos?”.
Ficaram conhecidos alguns protestos do clero.
Um decreto de setembro de 1939, exatamente no início da Segunda Guerra Mundial, prescrevia não só esterilizar, mas também levar à morte deficientes, marginais e os que apresentassem tendência para a depressão. O pretexto era o de libertar camas nos hospitais para os futuros feridos de guerra.
A propaganda nazi justificava em cartaz:
“60 000 marcos é o que cada, pessoa com defeitos hereditários custa ao Povo durante sua vida. Companheiro, é o seu dinheiro”.
Cartaz populista. Ao agrado do contribuinte!…
Experimentaram diferentes meios de extermínio. Os primeiros com veneno. Depois, as vítimas eram encerradas num local fechado, onde injectavam gás.
Em janeiro de 1940, uns quinze foram conduzidos para um falso chuveiro para serem asfixiados com monóxido de carbono. Os cadáveres foram em seguida incinerados. Os seus familiares avisados por carta da morte acidental e convidados a recuperar as cinzas. Uma antecipação das câmaras de gás de Auschwitz.
Estima-se que 70 a 100 mil cidadãos com deficiência tenham sido assassinados dessa maneira em menos de dois anos.
Os esforços para manter em segredo total não resultaram. Pastores protestantes reagiram.
Em 9 de Março de 1941, o bispo católico de Berlim, von Preysing, denunciou “mortes por eutanásia”. Joseph Goebbels, chefe da propaganda, convenceu Hitler a não determinar a execução do bispo para evitar um conflito aberto com os cristãos de Münster.
O horror nazi acordou consciências para a indignação. As práticas eugenésicas recolheram-se ao silêncio, como que hibernaram, mas voltam com facilidade sob pretextos de ocasião.
A pessoa com deficiência mental deixou de ser rotulada de imbecil, mas esse rótulo pode andar disfarçado no subconsciente social e individual de muitas pessoas.